Como era de se esperar, as delações e a divulgação dos grampos envolvendo o Presidente Michel Temer, em suposto esquema de corrupção, geraram grande alvoroço nas mídias sociais.
Estudos e análises de palavras-chave e da repercussão das matérias de portais, no Facebook e Twitter, reafirmam o que dissemos em nosso último texto. As pesquisas mostram que as discussões políticas que antes se mantinham, majoritariamente, entre militantes de PT e PSDB, hoje estão se tornando cada vez mais independentes, entre usuários que não retuítam perfis governistas ou de oposição a Temer. A coleta de dados, realizada pela Laboratório de Estudos sobre Imagem e Cibercultura (Labic Ufes), ocorreu entre as 22 horas de terça-feira, 16, e 22 horas de quarta-feira, dia 17.
No gráfico abaixo, do Twitter, temos uma visão mais clara de como formaram-se as discussões em torno das notícias da última semana. A parte cinza representa os usuários independentes, não militantes. Em vermelho, estão os perfis de oposição ao governo, em amarelo os governistas e em azul, estão jornais e portais de notícias.
A Mídia Ninja, portal de notícias desenvolvido de forma coletiva, teve a mesma repercussão do jornal O Globo e do Jornal Nacional. O primeiro divulgou as delações em primeira mão e o segundo entrou ao vivo com o emblemático “Plantão da Globo”. A Mídia Ninja realizou a cobertura no início das manifestações contra o governo Temer em várias cidades do país.
No Facebook, a Mídia Ninja também demonstrou um grande poder de engajamento, igualando o alcance do G1, veículo do Grupo Globo de Comunicações.
Na rede, a palavra mais utilizada foi “temer”. O sobrenome do líder do Executivo aparece com quase 3x mais frequência do que a segunda palavra da lista, “presidente”. O que chama a atenção na imagem é a ausência de referência aos partidos que governaram o país nos últimos anos — PT, PSDB e PMDB — todos citados nas delações da JBS.
Das cinco matéria mais compartilhadas, apenas a última é de um jornal declaradamente de oposição, o Brasil 247. O portal noticiou a suspensão do mandato de Aécio Neves e o classificou como “líder do golpe”.
FALTA DE REPRESENTATIVIDADE
Percebemos, nos últimos anos, o descrédito da população com a classe política. Rejeição refletida nas urnas, com mais de 30% de abstenções e votos brancos e nulos. Nas mídias sociais, a falta de representatividade também é facilmente percebida nos gráficos com os mapas de rede.
Podemos notar nos gráficos não apenas o pequeno número de militantes ativos — se comparado aos usuários “comuns” — mas a ausência de citação aos grande partidos e aos nomes da polarização. No Twitter, os grandes portais midiáticos, que detinham o monopólio da informação, hoje disputam espaço com os veículos de comunicação independente e com contas pessoais e humorísticas.
O perfil desses usuários independentes necessita de uma abordagem mais aprofundada, para que o público possa tender melhor o que buscam. Encontramos ex-militantes, apartidários, perfis de humor, pessoas que começaram a discutir política recentemente. Vozes que hoje não se veem representadas por nenhuma organização, partido ou personalidade política. Esta indignação coletiva encontrará um líder ou poderá fazer surgir outro, diferente da figura do político tradicional? Conseguirá fazer emergir uma opção diferente daquelas que vem polarizando as eleições desde a redemocratização? As próximas semanas poderão nos dar indicativos que permitam responder algumas dessas dúvidas.