O início do terceiro mandato de Lula se apresentou com uma série de desafios ao novo governo, refletindo a complexa realidade política, social e econômica do Brasil. Ao assumir a presidência, Lula herdou um país fragilizado. O que pretendemos com esse texto é ver como está a relação do governo com o povo e com o Congresso, os dois pêndulos essenciais no nosso presidencialismo de coalizão. Os dados usados nas próximas linhas foram retirados de uma pesquisa fresquinha da Genial/Quaest, coletada entre os dias 14 e 18 de dezembro deste ano.
UNIÃO E RECONSTRUÇÃO?
Lula assumiu as rédeas de uma nação ainda se recuperando da política “antipolítica” do Bolsonaro e dos impactos devastadores da pandemia, com desafios socioeconômicos e uma polarização política nunca antes vista. O lema escolhido pelo governo de “União e Reconstrução” parece não ter surtido efeito. Sua aprovação (54%) caiu seis pontos percentuais em relação a agosto. Mas o que mais deve preocupar o presidente é o número de indecisos que caiu de 16 para 3% e migraram para o grupo de desaprovação, que saiu de 28% em fevereiro e hoje está na casa dos 43%.
O aumento da desaprovação, especialmente nas regiões Sudeste e Sul (15 e 21, respectivamente), revela um descontentamento crescente, o que é intensificado pelos desafios econômicos cotidianos enfrentados pelos brasileiros.
Apesar dos recordes na redução dos preços dos alimentos (IPCA), a percepção ainda é de uma alta do custo de vida. Essa dualidade tornam-se elementos críticos na avaliação do governo em grupos focais (segundo o blog do Estadão “De Dados em Dados”, do Bruno Soller). A comparação do poder de compra, destacada por diversos setores da sociedade, evidencia a dificuldade do brasileiro médio em manter seu padrão de vida. Tem mais pessoas achando que os preços das contas, alimentos e combustíveis aumentaram.
O número de pessoas que considera que o Brasil está indo na direção errada já se aproximou, na margem de erro, dos que pensam que o país está caminhando no rumo certo. Esse dado se choca com os 55% da população que considera que a economia vai melhorar no próximo ano. A discrepância, que precisa ser melhor estudada, pode se dar pelo fato de que os eleitores do Bolsonaro jogam a avaliação negativa muito para cima, interferindo na média geral.
CONGRESSO
O embate com o Congresso, evidenciado pelo baixo índice de aprovação de projetos, é um dos pontos nevrálgicos desse governo. Lula, mesmo com sua habilidade política notável, encontra resistência na aprovação de suas proposições, refletindo a complexidade da atual composição parlamentar. A disputa por protagonismo e o controle do orçamento revelam uma dinâmica que pode dificultar a implementação de políticas cruciais para a recuperação do país.
Lula 3 é o que menos aprova projetos desde o governo Collor, segundo um levantamento de Camila Turtelli e Dimitrius Dantas para o jornal O GLOBO. Desde o início do ano, o Executivo apresentou 75 proposições e só 18 passaram. Quanto a isso, a percepção da população é de que a relação do governo com o Congresso é melhor que a de Bolsonaro (50% contra 36%).
FUTURO
A perspectiva de uma possível reeleição de Lula em 2026, embora seja mencionada por alguns observadores políticos, parece encontrar obstáculos crescentes. O PT precisa seguir vigilante. As análises indicam que, mesmo com a habilidade do presidente em jogar nesse tabuleiro político, os desafios atuais podem comprometer a continuidade do projeto político petista.
Diante desses desafios, o primeiro ano de Lula 3 revela uma trama política complexa, onde a capacidade de superar obstáculos se torna crucial. O sucesso ou fracasso dessa gestão dependerá não apenas da habilidade política do presidente, mas também da capacidade de resposta a questões urgentes que afetam diretamente a vida dos brasileiros. O caminho para 2026 se desenha incerto, carregando consigo a expectativa de mudanças significativas que moldarão o futuro político do país.
O governo ainda não completou 25% do mandato. Outro ponto essencial para mostrar o que foi feito é investir em uma comunicação governamental alinhada com os anseios da sociedade. Onde o governo está errando e o que pode ser melhorado? Abordaremos esse assunto no próximo texto.
Rodolpho Dalmo é Consultor Político Pleno, com mais de 9 anos de experiência, com passagens diretas e indiretas em mais de 120 campanhas, mandatos, partidos e instituições, em todas as esferas políticas. Possui conhecimento aprofundado do cenário político e das melhores práticas para promover uma campanha de sucesso.