A recente vitória de Javier Milei nas eleições argentinas desencadeou uma onda de transformações no panorama político, reverberando não só na Argentina mas ecoando entre os países vizinhos, com destaque para o Brasil.
Neste texto, que pretendo transformar em algo semanal, analisaremos os fatores que levaram à vitória do “El Loco” e como isso pode impactar as eleições aqui em nosso país em 2024 e 2026.
BREVE ANÁLISE DO FENÔMENO MILEI
Javier Milei, um candidato de perfil libertário, conquistou os eleitores argentinos com um discurso antiestablishment, atacando ferozmente a classe política tradicional, da qual ele chamava de “casta”.
Sua estratégia de marketing político foi marcada por um discurso antipolítica, o combate a um inimigo específico, uma imagem única e uma pauta central voltada para a economia. Esta última anda em frangalhos no país vizinho.
Essa abordagem, combinada com alianças pragmáticas e uma presença midiática controversa, provou ser eficaz para Milei, transformando-o em um produto político inegavelmente de grande potência. Gostando ou não, nada muda a materialidade dos fatos de que os anarcocapitalistas fizeram história na Argentina, elegendo seu primeiro líder real.
O sucesso de Milei levanta questões sobre como candidatos com estratégias semelhantes podem influenciar o cenário político em outros países, incluindo o Brasil após a derrota de Bolsonaro nas urnas e na justiça.
MILEI, BOLSONARO E A NOVA EXTREMA-DIREITA: CRÍTICAS SELETIVAS E ESTRATÉGIAS COMPARADAS
Um ponto de comparação interessante entre Javier Milei e Jair Bolsonaro é a abordagem seletiva em suas críticas. Enquanto Bolsonaro evitou — durante sua campanha de 2018 — críticas diretas aos bancos, Milei, na Argentina, parece ter deixado a mídia hermana fora de seus ataques, focando majoritariamente na classe política.
Essa estratégia levanta uma questão: será que os candidatos da chamada “nova extrema-direita” realmente chegam ao poder lutando contra todas as instituições estabelecidas, “contra tudo isso que está aí”, ou há uma escolha estratégica de alvos? Por que essas candidaturas freiam quando vão atacar as raízes de determinados problemas?
Uma análise mais cuidadosa dessas estratégias pode fornecer entendimentos valiosos para sabermos como esses líderes moldam suas estratégias e discursos políticos. Tentarei aprofundar o tema em breve, com uma pesquisa mais ampla de discursos e peças de campanha.
A ESQUERDA BRASILEIRA CONSEGUIRÁ EVITAR UMA ONDA AZUL?
Com a ascensão de Lula à presidência, a esquerda brasileira enfrenta o desafio de consolidar seu poder e evitar uma possível onda de vitórias da direita nas eleições subsequentes. O STF desempenhou em 2022 e, apesar de uma queda na aprovação, desempenha um papel crucial nesse cenário, condenando apoiadores do Bolsonaro a toque de caixa. E o que Lula e seus asseclas estão vendo é uma provável perda de força da Corte, com a PEC aprovada por 52 a 18 no Senado.
A esquerda brasileira, diante do cenário político em constante mutação na América Latina, enfrenta uma encruzilhada estratégica que demanda uma resposta enérgica e contextualizada. O Partido dos Trabalhadores (PT) fez muito nos últimos meses, mas a percepção popular, segundo algumas pesquisas, prova o contrário.
LIÇÕES DA ARGENTINA PARA O BRASIL
A vitória de Javier Milei na Argentina serve como um alerta para os estrategistas políticos brasileiros. As semelhanças em suas abordagens e o impacto resultante nas eleições sugerem que a narrativa antipolítica e o foco em questões econômicas podem ser fatores determinantes nos próximos dois pleitos que teremos pela frente. O filme de 2018, pausado em 2020 e 2022, pode voltar com tudo.
A esquerda brasileira, por sua vez, precisa adaptar suas estratégias para evitar a proliferação de uma onda de direita, que pode se fortalecer ainda mais com a eventual vitória de Trump nos Estados Unidos. Isso envolve não apenas a resposta a desafios econômicos, mas também uma análise cuidadosa das críticas seletivas feitas pelos líderes da “nova extrema-direita”. Além disso, para tentar sucesso em 2024, será preciso a criação de diversas “micro frentes amplas” aos moldes do que Lula fez em 2022 e Cristina Kirchner fez em 2019.
As ondas vermelhas e azuis nas Américas vão e vem, e estamos percebendo que devemos vivenciar, nos próximos anos, mudanças significativas. A atenção cuidadosa aos detalhes e às nuances das estratégias políticas pode ser a chave para o sucesso eleitoral nos próximos anos. Esse é o para casa que cientistas, estrategistas e consultores políticos precisarão fazer.
Rodolpho Dalmo é Consultor Político Pleno, com mais de 9 anos de experiência, com passagens diretas e indiretas em mais de 120 campanhas, mandatos, partidos e instituições, em todas as esferas políticas. Possui conhecimento aprofundado do cenário político e das melhores práticas para promover uma campanha de sucesso.