O ano de 2023 marcou um capítulo inédito na história do Brasil, com o governo Lula encerrando o ciclo no evento de promulgação da reforma tributária. Este feito, realizado no Congresso, não apenas reuniu a diversidade política brasileira, mas também sinalizou uma série de vitórias conquistadas pelo governo.
SALDO
O terceiro governo Lula: 1) aprovou o arcabouço fiscal; 2) retomou o aumento real do salário mínimo; 3) ampliou em 39% o valor da merenda escolar; 4) criou o Desenrola Brasil; 5) retornou com a política externa para “vender” o Brasil; 6) criou o Novo PAC; 7) reimplementou e ampliou o Bolsa Família, o Mais Médicos, o Minha Casa Minha Vida; entre diversas outras iniciativas.
Os indicadores econômicos fornecem as notícias mais otimistas possíveis. O PIB do Brasil registrou um crescimento notável de 3%, três vezes acima das projeções da OCDE. A SELIC diminuiu 2%, o dólar atingiu a marca de R$ 4,86, e a Bolsa de Valores atingiu seu recorde histórico. Para completar, a taxa de desemprego está prevista para fechar o ano em 7,7%, o nível mais baixo desde fevereiro de 2015. Os preços dos alimentos apresentaram a maior redução desde 2017, e os preços dos combustíveis estão em declínio.
POR OUTRO LADO…
Apesar dos inúmeros feitos, números positivos para a economia e as vitórias no Congresso, uma parcela significativa da população ainda não tem a percepção de que o governo está indo bem.
A recente pesquisa Genial/Quaest revela números desafiadores para o governo: 43% da população desaprova as ações governamentais, acreditando que o país está em um caminho equivocado; a nota geral do governo atinge modestos 5,7 em 10; e apenas 29% dos cidadãos consideram que Lula está liderando um governo superior aos seus dois primeiros mandatos. Quando questionada sobre acertos do governo, as respostas foram extremamente dispersas. O “Bolsa Família” e o “Minhas Casa Minha Vida” ficam no topo com 7% das respostas cada um. Quase 40 milhões de brasileiros não sabem onde o governo acertou ou nem soube responder ao questionamento.
Esses números devem acender, com urgência, um alerta não apenas na equipe de comunicação do governo brasileiro, mas também na equipe pessoal do presidente. É crucial compreender as preocupações da população para estabelecer uma conexão genuína. Abaixo, listamos diversas ações que poderiam ser implementadas para os últimos três anos de governo.
COMUNICAÇÃO GOVERNAMENTAL
Um governo que não publiciza seus feitos é, basicamente, um governo inexistente. A pesquisa que citamos nas linhas anteriores prova que as boas lembranças estão dispersas e grande parte do povo nem sabe o que o governo está fazendo. Outro fato que prova nosso ponto é que o Desenrola Brasil, que poderia resolver uma das maiores mazelas das famílias brasileiras, foi adiado devido a baixa adesão. Vamos aos pontos.
1. DADOS DAS AÇÕES REALIZADAS
O primeiro passo para uma comunicação governamental bem-sucedida é ter dados sobre a gestão. Nesse ponto o PT até caminha bem, com a criação do portal “Casa 13” (casa13.pt.org.br), que elenca as realizações do governo em todos os municípios do país, para ajudar na argumentação dos adeptos que fazem trabalho de base ou irão disputar as eleições do ano que vem. Excelente arma para municiar a militância. Mas o governo não pode falar apenas para os seus asseclas.
O que o governo precisa começar a fazer é criar pesquisas com interesse claro em entender como está o calor das ruas, o que o povo espera ou deseja saber. Não dá para ficar refém de avaliações apenas dos agentes do mercado financeiro, como é a pesquisa que divulgamos neste texto. Esse é um erro comum na maioria dos governos espalhados pelo país, em todas as esferas.
O governo federal tem, ao seu dispor, diversas universidades e centros de pesquisas. Se a Embrapa pode se debruçar sobre pesquisas que geram inovação, conhecimentos e tecnologias para a agropecuária brasileira, o Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação pode fazer o mesmo para entender o nosso próprio povo.
2. FOCO
A política não é algo que faz parte (diretamente) do cotidiano da população. As pessoas trabalham, se relacionam, descansam, usam as redes sociais e não gostam de ser impactadas por política. Agora imagine ser impactado por centenas de atos de comunicação. É preciso que a comunicação governamental “eduque” o cidadão e fixe sua mensagem principal.
Quando falamos de mensagem não necessariamente estamos falando de um slogan, mas de um conceito sobre o sentimento que queremos gerar na população. No Brasil esse tipo de mensagem é ainda difícil, pois o governo trabalha com realidades muito diferentes. Dentro das cidades já temos populações vivendo com realidades absolutamente diferentes, imagine dentro um país.
O conceito precisa ser memorável e fácil. Um erro muito comum em instituições é querer falar de tudo o tempo todo, deixando o eleitorado confuso. Se você estiver com problema nas vistas você deseja ir em um bom oftalmologista ou em um oftalmologista que também é advogado? Quem fala de tudo, no fim das contas não fala de nada.
3. EFEITO CHICLETE
Uma marca não se constrói em poucos dias. Pense nas famosas caixinhas de batatas fritas do McDonald’s. Esse conceito da hamburgueria está tão bem consolidado em nosso cotidiano que até se removermos o “M” dela saberemos de onde é. Assim acontece com marcas como a Coca Cola, Bombril, etc.
Depois de definir a marca, é preciso investimento em peças, tempo e treinamento. É preciso que todos que estão envolvidos no processo saibam como falar e fale em todas as oportunidades sobre a mensagem, direta ou indiretamente. Assim foi com a picanha e cerveja, que era o resumo de um plano de governo que em síntese dizia que o povo voltaria a ter dinheiro. É preciso que, no mesmo dia, o Presidente fale da mensagem em uma entrevista e o Prefeito da base também fale na inauguração de uma praça em uma cidade de 5 mil habitantes.
Fazer um vídeo de fim de ano com retrospectiva de ações, cheio de números e extenso é perda de tempo. É preciso que a informação seja usada por períodos, semestral ou anualmente. Eu dividiria o governo Lula em anos: reconstrução, aprimoramento, novos desafios e balanço.
4. AGENDA COERENTE COM A MENSAGEM
Para a comunicação funcionar é preciso que a agenda do governo e do governante esteja alinhada à mensagem. Não dá para passar uma mensagem de assistência social e realizar agendas de inauguração de obras básicas. É preciso sempre mostrar as táticas, estratégias e prestar contas.
A agenda também é importante para que a mensagem seja materializada, mostrando o que foi feito, o que está sendo realizado e as projeções futuras. Eu, particularmente, gosto que a mensagem sempre deixe algo pelo que está por vir, para que o governo não fique vivendo apenas do passado.
5. COMUNICAÇÃO
Um erro comum na política (pessoal, partidária ou governamental) é produzir demais sem estratégia alguma. Quando falamos de conteúdo, a qualidade deve estar a frente da quantidade. Um conteúdo precisa responder três perguntas: 1) “para quem eu vou falar?”; 2) “com quem eu vou falar?”; 3) “o que eu ganho com isso?”.
Muito além do WhatsApp, Instagram e Facebook, é preciso que a comunicação inclua vereadores, líderes comunitários, núcleos partidários, etc. É isso que faz a diferença na ponta. Muitos governos e políticos ignoram o poder de quem faz política de base. Uma peça genérica chegando via impulsionamento nunca chegará aos pés de um presidente de uma associação de bairro falando das benfeitorias do governo nas reuniões locais.
CONCLUSÃO
Os números provam que o governo está fazendo um bom trabalho, isso não está se refletindo nas pesquisas de opinião. O governo Lula precisa, para ontem, achar sua “picanha e cerveja” para os três anos deste mandato.
Rodolpho Dalmo é Consultor Político Pleno, com mais de 9 anos de experiência, com passagens diretas e indiretas em mais de 120 campanhas, mandatos, partidos e instituições, em todas as esferas políticas. Possui conhecimento aprofundado do cenário político e das melhores práticas para promover uma campanha de sucesso.